Zika Vírus (ZIKV)

Como é caracterizada a doença? (Tipo, causas, sintomas e comorbidade)

A SZIKV caracteriza-se pela infecção do vírus na população de células cerebrais em desenvolvimento, incluindo células humanas progenitoras neuronais específicas de prosencéfalo embrionárias, neuroesferas e organoides cerebrais, causando assim maior morte/degeneração celular, desregulação do ciclo celular e, em última situação, uma redução do crescimento celular. Com isso, observa-se nas neuroimagens de criança com essa síndrome a calcificação intracraniana, ventriculomegalia e diminuição do volume cerebral. Sendo assim, a determinação dos atributos representa a essência do conceito Síndrome Congênita pelo Zika Vírus, pois a calcificação intracraniana, ventriculomegalia e volume cerebral diminuído constituem características comuns a todas as crianças que expressam esse conceito.

Qual a prevalência (e impacto) dessa doença no Brasil e no mundo?

Anteriormente ao ano de 2015, a prevalência estimada de microcefalia grave no nascimento foi 0,5 por 10 mil nascidos vivos. Após a identificação da possível associação entre a infecção por Zika vírus e microcefalia na Região Nordeste do Brasil, essa prevalência aumentou para cerca de 20 casos por 10mil nascidos vivos. Portanto, os estados do nordeste do Brasil apresentaram a maior incidência da doença do Zika Vírus na população geral (34/10.000 no Estado da Bahia em 2016).

Quanto às consequências dessa síndrome, resultam de um conjunto de sinais e sintomas além da microcefalia fetal ou pós-natal, como por exemplo, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, anormalidades auditivas e visuais, desproporção craniofacial, suturas cranianas sobrepostas, osso occipital proeminente, excesso de pele nucal, epilepsia, irritabilidade, discinesia, hipertonia, hipotonia, hemiplegia, hemiparesia, espasticidade, hiperreflexia. Assim, o vírus causa também outras complicações congênitas e não apenas a microcefalia, dessa forma, a microcefalia é considerada um sinal da Síndrome Congênita pelo Zika Vírus que pode ou não estar presente. Portanto, na ausência de microcefalia no nascimento não descarta a infecção congênita do vírus Zika ou anormalidades cerebrais, neuropsicomotora, auditiva, visual, relacionado ao vírus Zika.

Portanto, essas crianças podem apresentar retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e fala, problemas na visão e audição, epilepsia, paralisia cerebral. Com isso, não há tratamento específico para a Síndrome Congênita pelo Zika vírus. A assistência deve ser voltada para o desenvolvimento da criança de acordo com suas complicações sejam elas neurológicas, motoras, auditiva, ocular. Essas situações demandam o acompanhamento multiprofissional abrangente do crescimento e desenvolvimento de crianças expostas ao vírus Zika, desde a gestação.

De acordo com um artigo publicado recentemente em nosso país, as mães de indivíduos que possuem a SCZV, são jovens adultas, na faixa etária de 27 a 41 anos. A maioria é casada, se autodeclara da raça/cor parda, possui nível médio de escolaridade, não possui emprego formal e tem dois filhos ou mais. A renda média familiar é de um salário mínimo. A maior parte declarou não ser beneficiária de programas governamentais de transferência de renda. Isso é algo muito relevante do ponto de vista social, pois revela que os familiares dos pacientes que possuem a SCZV são de baixa renda, no quais, provavelmente, não terão custos próprios para arcar com as despesas para o tratamento desses enfermos. Além disso, muitas mães passam por estresse emocional, devido ao impacto da notícia e pela desconstrução do bebê idealizado. É valido ressaltar também, que após descobrir que possuem um familiar com a SCZV, as famílias precisam se reajustar para realizar o cuidado contínuo do novo membro. Sendo assim, segundo a literatura, na grande maioria dos casos, as mães assumem o zelo integral dos filhos, o que interfere na atuação das mães no mercado de trabalho, trazendo um potencial impacto financeiro para essas famílias. Portanto, é muito importante o papel do governo em apoiar essas famílias, tendo em vista que a constituição Federal garante que o acesso à saúde deve ser universal.

Quais medicações são usadas nessa doença?

Na microcefalia, os portadores apresentam-se com alguns espasmos, que normalmente ocorrem em indivíduos que têm um distúrbio cerebral ou problema de desenvolvimento sério, que já podem ter sido diagnosticados. Duram apenas alguns segundos, mas normalmente, ocorrem um após o outro em uma série que dura vários minutos. Sendo assim, os portadores podem ter várias séries de espasmos por dia. Normalmente começam quando as crianças têm menos de um ano de idade, e podem parar de ocorrer até os cinco anos de idade, mas frequentemente, outro tipo de convulsão se desenvolve depois. Por esta razão é muito comum médicos inserirem no rol de medicações para bebês microcefálicos os famosos anticonvulsivantes.

Os medicamentos mais utilizados atualmente para o controle das crises convulsivas, são chamados de drogas antiepiléticas ou anticonvulsivantes.  A escolha depende de fatores como o tipo de crise e segurança para a faixa etária. Na SCZV podem ocorrer vários tipos de crises epilépticas: espasmos, crises generalizadas e focais. O tratamento farmacológico tem como funcionalidade nesses casos, de agir diretamente sobre o SNC inibindo ou dificultando processos neuroquímicos na possibilidade de impedir a sua atividade anormal, controlando as crises convulsivas sem produzir consequentemente, efeitos adversos das drogas, o que quase sempre não é alcançado. Os fármacos agem sobre variados sistemas, agindo de maneira substancial sobre o estado de alerta, imprescindível para uma comunicação efetiva. As reações adversas não acontecem obrigatoriamente em um mesmo indivíduo, estes fatores dependem do organismo e como as particularidades da medicação agem sobre o mesmo, levando ao desencadeamento de respostas. O tratamento em pacientes com crises epilépticas consiste geralmente em fármacos que inibem a atividade cerebral em até 75% ou em casos extremos, a indicação de cirurgia. A indústria farmacêutica ao produzir seus remédios tem o objetivo de prevenir, atenuar e/ou cessar as patologias, mas esses produtos podem produzir efeitos indesejáveis e prejudiciais à saúde. Sendo assim, os medicamentos mais utilizados atualmente para o controle das crises convulsivas, são chamados de drogas antiepiléticas ou anticonvulsivantes. Ex: Levetiracetam, Carbamazepina.

Quais os efeitos colaterais e limitações do tratamento atual?

Alguns efeitos são comuns a todas as classes de anticonvulsivantes, tais como: sonolência, diplopia, irritabilidade, tonturas e desequilíbrio.

Quais evidências do tratamento com cannabis nessa doença (sintomas e comorbidades)? (estudos em células/animais e humanos) 

Uma recente revisão da literatura, aponta os possíveis benefícios do uso de Δ⁹-THC e CBD para doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer. Foi observado, a nível celular, ação neuroprotetora, antioxidante, antiapoptótica, e aumento da diferenciação celular e da expressão de proteínas axonais e sinápticas, além de apresentar efeito neurorestaurador. Em animais, houve relato de restituição de déficits social e do reconhecimento de objetos, e modificação na composição das placas beta-amiloides. Já em humanos, observou melhora no bem-estar emocional, mobilidade, sintomas psicóticos e no sono REM, sem haver relato de mais efeitos adversos no uso dessas substâncias, comparado ao placebo 28. Portanto, de acordo com a literatura e estudos recentes, fica evidente que os fitocanabinóides possuem diversos efeitos benéficos, como uma melhora no desenvolvimento cognitivo e psicomotor, e uma melhora no sono, além de possuir menos efeitos adversos. Sendo assim, os pacientes que possuem a SCZV, poderiam se beneficiar desse tratamento alternativo. Logo, a aplicação de fitocanabinóides para manejar pacientes com a SCZV, poderia servir como uma alternativa ao tratamento, com um potencial eficaz, de diversas comorbidades destes pacientes, proporcionando múltiplos benefícios a esses indivíduos, possibilitando uma melhora na qualidade de vida deles e dos seus familiares.

Resumo de como a cannabis pode ajudar.

Estudos indicaram que os canabinóides desempenham um papel nos seguintes processos fisiológicos em humanos: plasticidade neuronal, dor, ansiedade, inflamação, função imunológica e regulação metabólica. Com isso, diversos estudos evidenciam que os fitocanabinóides poderiam vir a servir como uma opção de tratamento para indivíduos que possuem epilepsia refratária, por exemplo, o que poderia ajudar as crianças acometidas pela SCZV, tendo em vista que com um menor número de convulsões, possibilitando que estas, consigam progredir em seu desenvolvimento. De acordo com estudos recentes, os fitocanabinóides possuem diversos efeitos benéficos no tratamento de comorbidades neurológicas, como uma melhora no desenvolvimento cognitivo e psicomotor, e uma melhora no sono, além de possuir menos efeitos adversos. Sendo assim, os pacientes que possuem a SCZV, poderiam se beneficiar desse tratamento alternativo.

Referências

Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika. Brasília: MS; 2015.

ALVAREZ, A. P. F. O.; COSTA, D. K. D. Q.; RETHMEYER, J. A. Intercorrências das reações adversas dos Anticonvulsivantes sobre a terapia fonoaudiológica. São Paulo, 2008. Disponível em: <http://fonovitae.com.br/uploadedfiles/anticonvulsivantes%20monitoria%20trabalho%20completo.pdf > Acesso em: 19 dez. 2020.

CAMARGO FILHO, M. F. A, et al. Canabinoid as a new therapeutic option in Parkinson’s and Alzheimer’s diseases: a literature review.  Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JU 30.

Menezes A, Alves M, Gomes T, Pereira J. Microcefalia relacionada ao vírus Zika e dinâmica familiar: perspectiva da mãe. 2019. Av Enferm, 37(1) 38:46. DOI: https://doi.org/10.15446/av.enferm.v37n1.72008N 2019.

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Souza WV, Araújo TVB, Albuquerque MFPM, Braga MC, Ximenes RAA, Miranda-Filho DB, et al. Microcefalia no Estado de Pernambuco, Brasil: características epidemiológicas e avaliação da acurácia diagnóstica dos pontos de corte adotados para notificação de caso. Cad Saúde Pública 2016; 32:e00017216.

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