Introdução
A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial de tecidos.
Queixas de dores estão entre as principais causas de busca por atendimento médico; dessa maneira, a diferenciação entre dor aguda e crônica é a primeira investigação necessária para a condução do quadro álgico. Consideramos dor crônica a queixa que se apresenta por mais de 3 meses de ocorrência do agravo, podendo ser contínua ou recorrente.
Alguns estudos trazem como uma opção de tratamento em pacientes com dor crônica, o uso da Cannabis medicinal, como uma alternativa para pacientes refratários ou como droga adjuvante no manejo de pacientes que precisam fazer o uso de altas doses de AINE’s e Opióides.
O uso medicinal da planta CS tem sido utilizada pela sociedade, para diversas condições clínicas, há muitos séculos. Nesse sentido, vale a pena ressaltar que as duas classes de fármacos mais utilizados no tratamento da dor (opióides e anti-inflamatórios), são de origem vegetal.
De acordo com a última revisão da literatura (revisão crítica de estudos selecionados entre 2015 a 2019), sobre o tratamento da fibromialgia através do uso de CBD, há a suposição de que a cannabis medicinal é um tratamento seguro e eficaz, servindo como uma opção para pacientes com fibromialgia, com relatos de sinais de melhorias significativas na intensidade / gravidade da dor; qualidade do sono; nível de depressão; nível de ansiedade; e qualidade de vida geral.
Mas Afinal, O Que é a Fibromialgia?
A fibromialgia é considerada uma doença crônica associada à disseminação da dor se dá na musculatura esquelético, e é comumente acompanhada por sintomas como fadiga, problemas cognitivos, humor e distúrbios do sono (Clauw 2015; Palagini et al. 2016).
Além disso, alguns pacientes com fibromialgia apresentam sintomas psicológicos, sociais e comportamentais que causam grande impacto na funcionalidade e qualidade de vida.
Os sintomas fisiopatológicos da fibromialgia incluem um sistema nervoso central sensibilizado ou hiperativo que é associado a um aumento do ganho de dor sensorial. (Clauw 2015 ; Queiroz 2013 )
A fibromialgia pode ocorrer sozinha, mas muitas vezes é associada à outras comorbidades, em condições como a síndrome do intestino irritável, dores de cabeça, artrite reumatoide (altamente associada com uma variedade de doenças autoimunes).
Quando comorbidades estão presentes, a dor centralizada pode resultar de vários problemas, tornando difícil identificar a fonte.
Um estudo de 2015, demostrou que os pacientes com fibromialgia com transtornos comórbidos, onde a via comum é a dor, tem menos probabilidade de responder aos tratamentos típicos da dor com cirurgia ou opioides (Clauw 2015). Além disso, os resultados mostraram que, em alguns casos, pacientes com fibromialgia com múltiplas comorbidades que levam à dor, respondem bem à ação central com terapias farmacológicas, como uso da cannabis (Fitzcharles et al. 2018; Phillips e Clauw 2013; Russo 2016; Walitt et al. 2016).
Revisões sistemáticas recentes em relação à o uso de cannabis para a dor da fibromialgia tem sido limitado de escopo, com apenas um estudo clinico identificado focando exclusivamente em pacientes com fibromialgia (Walitt et al. 2016).
Apesar disso, há grande plausibilidade em pensar nos canabinóides como potenciais analgésicos nesse agravo já que a cannabis têm sido utilizados no tratamento da dor e suas comorbidades por muitos séculos.
Sistema Endocanabinoide e Gerenciamento da Dor
A função primária do sistema endocanabinoide em humanos é manter a homeostase, que inclui a regulação da dor e inflamação. O sistema endocanabinoide é parte integrante do funcionamento fisiológico normal em humanos e tem sido associada à patologia de várias condições neurológicas. Tradicionalmente para adquirir o extrato da Cannabis, é utilizado uma preparação de planta derivada da Cannabis sativa, possuindo relatos desde à antiguidade do uso de canabinóides para efeitos medicinais.2
Estudos indicaram que os canabinóides desempenham um papel nos seguintes processos fisiológicos em humanos: plasticidade neuronal, dor, ansiedade, inflamação, função imunológica e regulação metabólica. Além disso, uma pesquisa mostrou que 62% dos usuários licenciados de maconha medicinal nos Estados Unidos relatam dor crônica como o principal motivo de uso (Boehnke et al. 2019).
Na última década, a pesquisa científica avançou em busca de determinar os efeitos do canabinóide na neurotransmissão nociceptiva. Essas investigações permitiram conhecer melhor os mecanismos básicos e desenvolver alternativas farmacológicas com efeitos mais específicos.
Pesquisadores demonstraram aumento da expressão dos receptores CB1 no tálamo contralateral após modelo de dor neuropática, o que poderia explicar a maior eficácia analgésica dos canabinóides em casos crônicos. A ativação dos receptores CB1 está associada às propriedades anti-hiperalgésicas e antialodínicas dos canabinóides.8
Estudos sugerem também que os receptores CB2, classicamente relacionados com a resposta imunológica, estão implicados com a antinocicepção. Quando se administram doses baixas de canabinóides e doses subterapêuticas de morfina se produz importante potencialização do efeito nociceptivo devido à ação sinérgica das duas substâncias. A administração concomitante melhora a eficácia e a segurança no controle da dor, sobretudo porque os canabinóides não produzem depressão respiratória.
Outros resultados indicaram que dores neuropatológicas e musculoesqueléticas são as duas razões mais comuns pelas quais os indivíduos que sofrem de dor crônica escolhem a cannabis medicinal como analgésico alternativo (Fitzcharles et al. 2016; Vučković et al. 2018).
Dessa forma, pessoas tratadas com CBD afirmam que essa substância tem grande eficácia no alívio da dor, bem como observam melhora clínica em quadros de insônia, enxaquecas, náuseas, ansiedade, transtornos de humor e síndrome do intestino irritável.
REFERÊNCIAS
- Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia/editor-chefe David E. Golan, co-editor Armen H. Tashjian, Jr., editores associados Ehrin J. Armstrong, revisão técnica Lenita Wannmacher; traduzido por Patricia Lydie Voeux, Maria de Fátima Azevedo. – [3. ed.] – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
- Canabinoides para a dor da fibromialgia: a revisão crítica de estudos recentes (2015-2019) Erinn C. Cameron e Samantha L. Hemingway.(Bridgeman e Abazia 2017). International Association for the Study of Pain – IASP.